Quando é que o ser humano passa a existir ?? As respostas a essa pergunta sempre foram calcadas na interação entre os aspectos bíblicos e teológicos e o conhecimento filosófico e científico em constante evolução. Os cristãos discutiam, se a alma da nova pessoa era criada por Deus do nada e infundida no embrião num momento determinado, ou se a alma e o corpo, como entidade única, era transmitida no ato sexual pelos pais aos filhos. O pensamento cristão medieval fortemente influenciado por Tomás de Aquino, inclinava-se por uma diferenciaçãoentre o feto formado e o informe e pela visão criacionista de que a alma era infundida por Deus no feto formado. Com o passar do tempo, porém, sob pressão tanto do argumento teológico, isto é, pontos de vista traducionistas, que tornavam relativamente irrelevantes as distinções entre os estágios de desenvolvimento fetal; e os novos dados do conhecimento cientifico, a criação da alma retrocedeu ao momento da concepção, amenizando assim a importancia de qualquer distinção entre o feto formado e o informado. Por motivos bíblicos e teológicos, as atenções tem se voltado para o momento inicial da vida, ao mesmo tempo, em que o acumulo de conhecimento científico tem esclarecido a natureza desse momento. Não podemos afirmar que a bíblia fixa o ponto exato em que se dá o começo da vida, embora dirija nossa atenção para o valor da vida fetal.
Sl 139. 13-16
Na sua linguagem poética o salmista descreve um Deus, que Se importa até mesmo com o mais frágil e menos desenvolvido de nós. Mais importante ainda, ao menos para o cristão, é o ensinamento de que Deus viveu em Jesus Cristo e redimiu toda a vida humana, desde os seus momentos iniciais até a morte, que nos aguarda a todos. Não importa se nossas capacidades são grandes ou limitadas, tampouco se são fabulosas ou insignificantes as nossas realizações. Somos todos "fetos-irmãos". Não temos diante de Deus quaisquer direitos ou realizações de que nos gabar, apresentamo-nos com confiança diante Dele unicamente por meio da fé na obra redentora de Cristo. Tais questões pressionam os cristãos no sentido de identificar a concepção ou a fertilização como o instante em que o novo ser humano passa a existir, podendo-se ainda apelar ao conhecimento da ciência para ratificar este dado. " Quando o esperma e o óvulo se unem para formar o zigoto, estabelece-se o genótipo do individuo". Não obstante, existem bons motivos para hesitação, pois podemos identificar o inicio da vida do ser humano, num momento ligeiramente posterior ao da concepção. Isto porque o óvulo fertilizado precisa implantar-se com sucesso no útero, antes que a gravidez se consolide e, segundo as pesquisas indicam, aproximadamente metade dos óvulos fertilizados fracassam nesta tentativa. Se correta for esta estatística, somos forçados a concluir que metade da raça humana, morre quatro ou cinco dias depois do começo da vida. Embora não hajanenhum impedimento lógico nisto, parece ir contra a intução. Alem do mais, durante os primeiros catorze dias, a individualidade do ser em desenvolvimento não esta firmemente estabelecida. Até este ponto, o blastócito em desenvolvimento, pode segmentar-se, isto é, pode haver geminação, se o blastócito se dividir em dois ou mais do mesmo genótipo. Se fosse demonstrado que a segmentação - quando ocorre - já foi geneticamente programada no momento da fertilização, os fatos seriam diferentes e a fertilização seria, uma vez mais, o momento desisivo de fixação da individualidade.
Bioetica. Gilbert Meilaender.