terça-feira, 24 de julho de 2012

Quem é Satanás?


Embora as figuras do diabo, em meio a civilizações muito diferentes, sejam surpreendentemente parecidas, elas não nos dizem muito sobre a sua identidade, a sua origem ou suas atividades. Para obter informação especifica concernente a seu caráter, nos precisamos recorrer à Bíblia. Mesmo ali, nós não encontramos uma resposta para todas as perguntas que vem a nossa mente. Entretanto, as escrituras revelam tudo o que necessitamos saber para leva-lo a serio e desfazer os seusesforços em nos destruir.

Sua Origem.
Satanás não existiu sempre. Ele e todos os outros anjos foram criados (Salmo 148:2-5 e Colossenses 1:16). Em Ezequiel 28:12-15, nós encontramos uma descrição de Satanás antes de ele ter pecado. Embora o profeta estivesse falando ao rei de Tiro, vemos certas indicações na passagem de que ele estava falando além do rei, ao próprio satanás. Criado por Deus como “querubim da guarda ungido” (v.14), ele era “cheio de sabedoria e formosura” (v.12) e coberto de “todas as pedras preciosas” (v.13). Ele estava “no Éden, jardim de Deus” (v.13) e “permanecia no
monte Santo de Deus” (v.14). É muito provável que satanás tinha um lugar de proeminência no seu serviço para Deus.

Seu pecado.
Referindo-se a satanás, Ezequiel 28:15 afirma: “perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti” Ezequiel então acrescenta, “elevou-se o teu coração, por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor” (v.17). O pecado de satanás, cuja origem estava no orgulho, cresceu a ponto de transformar-se em autoengano e terminou em rebelião. Em Isaias 14:13-14 nós lemos: “Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte
da congregação me assentarei... subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao altíssimo” O orgulho de satanás o enganou a tal ponto que reivindicou igualdade com Deus. Isto o levou a iniciar uma rebelião na qual induziu um grande numero de anjos a se unirem a ele (apocalipse 12:4).

Sua Punição.
Depois que Satanás pecou, Deus o lançou à terra, para fora do céu (Isaias 14:12 e Ezequiel 28:16-17). No julgamento final, satanás será “lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde também se encontram não só a besta como o falso profeta, e serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 20:10).

Sua condição como pessoa.
Satanás não é uma força maligna impessoal. Ele possui características de uma personalidade: intelecto (2 Coríntios 11:3) emoção (Apocalipse 12:17) e uma vontade própria (2 Timóteo 2:26). Alem disso, são usados pronomes pessoais para referir-se a ele, tanto no AT como no NT (Jó 1:6-12; 2:1-7; Zacarias 3:1,2; Mateus 4:1-12).

Seus Nomes.
Nós podemos aprender muito a respeito de quem é satanás, olhando para os diferentes nomes, títulos e representações dele, em toda a Escritura:

-Satanás – (Zacarias 3:1; Mateus 4:10; Apocalipse 12:9 e 20:2), usado 52 vezes, vem da palavra hebraica satan, que significa adversário e opositor.

Diabo (Mateus 4:1; 13:39; Efésios 4:27; Apocalipse 12:9; 20:2) usado 35 vezes, vem da palavra grega diabolos, significando difamador, acusador.

Lúcifer (Isaias 14:12) significa sol da manhã, resplandecente ou portador de luz. Mesmo que este nome o descreva antes da sua queda, satanás atualmente “se transforma em anjo de luz” para enganar o mundo (2 Coríntios 11:14).

Querubim da guarda ungido (Ezequiel 28:14) indica que ele possuía uma das posições mais altas, dentre todos os anjos.

O Mal ou o Maligno (Mateus 13:19,38; João 17:15; Efésios 6:16; 1 João 5:18-19) descreve-o como a personificação do mal.

Príncipe deste mundo (João 12:31; 14:30; 16:11) se refere a seu poder sobre o sistema mundial de maldade dos homens e dos demônios.

Deus deste século (2 Coríntios 4:4) é usado em referencia a seu poder para cegar as mentes das pessoas para com o Evangelho.

Príncipe da potestade do ar (Efésios 2:2) descreve a sua influencia espiritual penetrante.

Serpente (Genesis 3:1; 2 Coríntios 11:3; Apocalipse 12:9; 20:2) retrata o seu engano e a sua astucia.

Dragão (Apocalipse 12:3,7,9) indica a sua natureza cruel e o seu poder de destruição.

Acusador (Apocalipse 12:10).

Tentador (Mateus 4:3; 1 Tessalonicenses 3:5).

Enganador (Apocalipse 12:9; 20:3).

Homicida (João 8:44). Mentiroso (João 8:44).

Pecador (1 João 3:8).

Belzebu, príncipe dos demônios (Mateus 10:25; 12:24,27; Marcos 3:22; Lucas 11:15) traduzido literalmente significa “senhor das moscas”.

Belial (2 Coríntios 6:15) significa sem valor, maligno, perverso.

Leão que ruge (1 Pedro 5:8) descreve-o como faminto e à espreita para devorar os cristãos.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Fazendo as trevas retroceder


Num verdadeiro sentido, podemos resumir a obra de Jesus na terra em uma única palavra: vitória. Ele sofreu no Getsêmani a fim de desfazer as trevas que nós mesmos havíamos trazido sobre nós. Quando Jesus estava pendurado na cruz, deve ter dado a impressão de ser um perdedor, uma vitima açoitada e ensanguentada. Embora falasse palavras agonizantes da cruz, ele não desceu de lá quando foi desafiado a isso. Permaneceu pregado ao madeiro ate o momento
em que morreu. Estava pendurado lá como “o Salvador do mundo” (1 Joao 4:14).
Ele havia sido tentado e provado de todas as formas possíveis, “porem sem pecado” (Hebreus 4:15). Através da sua vida sem pecado, e de seus milagres, Jesus havia demonstrado o seu domínio sobre o diabo e todas as forças do mal.
Ele havia amarrado o “homem forte” (Mateus 12:29). Sim, o diabo ainda é um inimigo poderoso, e não admitiu ainda a derrota. Mas já foi derrotado. Assim, quando nos submetemos a Deus e resistimos ao diabo, podemos afugenta-lo (Tiago 4:7). As declarações finais de Jesus na cruz foram palavras de um vencedor.
Depois de três horas de escuridão, ele exclamou com triunfo: “Está consumado” Ele sabia que havia sofrido a desolação do inferno e esvaziado o cálice da ira de Deus contra o pecado. Paulo declarou que Jesus “cancelou a escrita da divida... que nos era contraria”. E acrescentou triunfante: “Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo publico, triunfando sobre eles na cruz” (Colossenses 2:13-15). Ao conseguir a vitória sobre satanás, pagando o castigo dos pecados na cruz, Jesus proclamou a sua vitória por meio da ressurreição. Por causa da sua vitória na cruz “era impossível que a morte o retivesse” (Atos 2:24). A morte perdeu o seu “aguilhão” (1 Coríntios 15:55). Quando Jesus subiu aos céus, ele entrou em triunfo e tomou o seu lugar de exaltação universal. Ele vive a fim de interceder por nós (Hebreus 7:25) Nós que fomos reconciliados com Deus, ao confiarmos em Jesus, temos uma garantia completa e final da nossa salvação “por sua vida” (Romanos 5:10). Nesse interim, vivemos entre a sua Ascenção e a sua volta. Ele já esta reinando, mas o seu governo ainda não se manifestou completamente. Um dia, todo joelho se dobrará diante dele, para que “toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Filipenses 2:5-11). Esperamos com confiança por esse dia, sabendo que Jesus já triunfou.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os inimigos de Cristo nas trevas.

Os inimigos de Jesus também aumentaram o sofrimento dele no Getsêmani. Isso, quem sabe, não nos surpreenda.
Afinal, é isso o que fazem os inimigos. Mas não devemos considerar tais atos como algo natural. Eles também foram pessoas pelas quais Jesus iria morrer. Desde a meia noite até às oito horas da manhã, Jesus foi submetido a uma sucessão de julgamentos que lhe trouxeram insultos e abusos físicos. Talvez satanás esperasse que esse terrível tratamento, infligido por pessoas que ele viera salvar, pudesse convencer Jesus a tomar um caminho mais fácil do que a cruz. De qualquer forma, podemos estar seguros deque satanás ficou contente com esse maior sofrimento, pois todos estes maus-tratos estavam sendo acrescidos a Jesus, que ele odiava. Ser trazido diante de Anás (João 18:13) significava uma notória indignidade. Anás não era um sumo sacerdote ordenado por Deus. Ele nem sequer era descendente de Arão. Ele conseguira esta posição por meio de intrigas politicas. Havia estado no cargo desde 6 até 15 DC, e passou o cargo adiante para membros da sua família. Seu genro, Caifás, agora era oficialmente o sumo sacerdote. Mas Anás ainda detinha o controle, a ponto de ser chamado de “sumo sacerdote” em João 18:19. Anás tratou Jesus com desdém, sujeitou-o a um processo de questionamento ilegal e não mostrou nenhuma objeção quando um dos guardas do templo bateu-lhe grosseiramente no rosto (v.19-24). Anás esperava ganhar tempo, ate que os 71 membros do sinédrio se reunissem com Caifás, para que pudesse começar o julgamento oficial. O Sinédrio era o conselho supremo Judeu. Era constituído por sumo sacerdotes, anciãos e escribas que eram peritos nas leis judaicas. O oficial que presidia o conselho era o sumo sacerdote.
Jesus foi levado diante deste grupo de homens hostis e sujeitado a falsos testemunhos. Teve que assistir à demonstração hipócrita de religiosidade, quando Caifás rasgou as suas vestes num gesto de horror e gritou: “Blasfemou! Por que precisamos de mais testemunhas?” (Mateus 26:65). Os membros do sinédrio haviam se reunido a fim de levar a cabo uma conspiração, não um julgamento justo, e Jesus foi obrigado a ouvi-los dizer: “É réu de morte!” (v.66). Teve que permitir que guardas cruéis lhe cuspissem no rosto, dessem murros e tapas, e suportou uma maldosa brincadeira de cabra-cega, em que seus olhos foram vendados: batiam nele e o desafiam a dizer quem batia (v 67-68). Mas Jesus suportou tudo isso porque estava determinado a alcançar o seu objetivo, a salvação daqueles mesmos pecadores que o maltratavam. Jesus sabia, pelas Escrituras do AT, que seria tratado desta maneira. Satanás foi capaz de aumentar o sofrimento do Senhor no caminho para a cruz, mas isso foi tudo o que conseguiu fazer. Embora
o sinédrio já houvesse determinado que Jesus deveria morrer, eles se reuniram novamente na manhã seguinte, a fim de tomar uma decisão oficial sobre como apresentariam o caso a Pilatos, o governador romano daquela região (Marcos 15:1 Lucas 22:2). O sinédrio não tinha poder para executar ninguém sem permissão de Roma (João 18:31). Por isso, os soldados levaram Jesus a Pilatos e os lideres Judeus apresentaram suas queixas. Em determinado ponto, Pilatos anunciou o veredito: “Não encontro motivo para acusar este homem” (Lucas 23:4). Isto enfureceu os conspiradores. Eles declararam que Jesus começou na Galiléia e espalhou a sua mensagem perigosa por toda a região (v.5). Depois de ouvir que Jesus era galileu, Pilatos viu uma maneira de sair do apuro. Enviou Jesus para Herodes Antipas, o governador judeu da região. Talvez pudesse cuidar daquele problema. Herodes Antipas havia sido nomeado por Roma para ser tetrarca da Galiléia e Peréia, após a morte de seu pai, no ano 4 a.C.. Ele havia decapitado João Batista por instigação da sua esposa, Herodías. Supersticioso, Herodes queria ver Jesus para aquietar um receio, em seu interior, de que Jesus pudesse ser Joao Batista ressuscitado dos mortos (Lucas 9:7-9). Ele interrogou Jesus com muitas perguntas, mas Jesus permaneceu em silencio. Com isso, “Herodes e os seus soldados ridicularizaram-no e zombaram dele. Vestindo-o com um manto esplendido, mandaram-no de volta a Pilatos” (23:11). Pilatos odiava os lideres judeus, e relutou em ordenar a crucificação de Jesus. Ele declarou novamente a inocência de Cristo (v.14-15). Num esforço de satisfazer a hostilidade judia, ordenou que Jesus fosse açoitado. O chicote usado para esse proposito consistia de diversas tiras de couro com pedaços de metal. Ele rasgava pedaços de pele das costas de Jesus. Depois disso, Pilatos permitiu que seus soldados sádicos praticassem zombaria, pressionando uma coroa de espinhos na cabeça de Jesus, vestindo-o com uma capa purpura, saudando-o como Rei dos Judeus e, então, para homenageá-lo batiam-lhe no rosto em vez de beijar as suas faces.
Pilatos ordenou que fosse apresentado a multidão enfurecida, e disse: “Eis o homem!” (Joao 19:5). A sua provável intenção foi a de dizer: “Olhem para este pobre compatriota! Como pode ele
significar uma ameaça para alguém?” Mas, mesmo vendo Jesus com um manto de purpura todo ensanguentado e com uma coroa de espinhos na cabeça, que fazia jorrar sangue pelo seu rosto espancado, isto não evocou nenhuma piedade. A resposta foi: “Crucifica-o! Crucifica-o!” (v.6). Logo Pilatos cedeu a pressão: “Finalmente Pilatos o entregou a eles para ser crucificado” (v.16). Jesus saiu carregando a cruz sobre seus ombros ensanguentados. Mas ele estava tão exausto e fraco, por causa da longa noite de tortura, que desabou sob o seu peso. Os soldados romanos forçaram Simão Cireneu, um judeu que tinha vindo celebrar a Pascoa, a carregar a Cruz no restante do caminho. Ver Jesus a caminho da crucificação deve ter sido alarmante para satanás. Mas ele ainda não estava pronto a aceitar a derrota. Ele continuou com os seus esforços de acrescentar a Jesus toda a dor e sofrimento que pudesse reunir. Seguiu testando a resolução de Jesus, incitando escárnios dos espectadores judeus e dos dois criminosos, entre os quais foi crucificado. Mateus escreveu: “os que passavam lançavam-lhe insultos, balançando a cabeça e dizendo:” Você que destrói o templo e o reedifica em três dias, salve-se! Desça da Cruz se é filho de Deus!”. Da mesma forma os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os lideres religiosos zombavam dele, dizendo: “Salvou os outros, mas não é capaz de salvar a si mesmo! E é o Rei de Israel! Desça agora da cruz e creremos nele. Ele confiou em Deus. Que Deus o salve agora, se dele tem compaixão, pois disse” Sou o Filho de Deus”. Igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele” (Mt 27:30-44). Satanás esperava que esse desafio fosse demasiado e que Jesus não resistiria. Lá estava ele, pendurado na cruz, numa condição débil, devido a tudo que havia suportado durante a noite e nas primeiras horas da manhã. E seus inimigos ainda não estavam satisfeitos! No Getsêmani, Jesus havia dito que, se ele pedisse ao Pai, mais de doze legiões de anjos estariam à sua disposição (Mateus 26:53). O poder de escapar daquela hora tenebrosa estava a sua disposição. Como no Getsêmani e durante o julgamento, satanás foi capaz de aumentar a dor de Jesus. Mas foi incapaz de realizar o seu objetivo. Ele não
podia induzir Jesus a desviar-se do compromisso de morrer na cruz, a fim de pagar o preço do pecado, quebrar o poder da morte e assegurar a vitória final sobre as forças do mal.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Os discipulos de Jesus nas Trevas.


Será de importância para nós
observarmos, mais de perto, como os doze seguidores mais próximos de Jesus se
tornaram, inconscientemente, instrumentos de satanás na batalha contra Jesus.
Parece que satanás tinha pelo menos dois objetivos ao agir por meio dos amigos
de Jesus. Primeiro, ele queria convencer desesperadamente a Jesus de que seres
humanos não eram dignos de tudo o que Ele intencionava fazer por eles. Segundo,
ele odiava tanto o Salvador que, mesmo que falhasse em cumprir a sua meta,
queria aumentar ainda mais a dor e a vergonha na Sua jornada até a cruz. Precisamos
nos lembrar de que foi por meio da Sua morte – não por meio do sofrimento
físico e psicológico que a precederam – que Jesus pagou o preço do pecado. Deus
não foi e não é quem exigiu de Jesus cada medida de Sua dor, que nós merecíamos
por causa dos nossos pecados. O sofrimento e a vergonha que Jesus experimentou
no caminho até a sua morte aconteceram porque Deus permitiu que o diabo fizesse
o pior para maltratar Jesus e tentar ganhar a batalha contra o Filho de Deus.
Esse fato explica a afirmação que Jesus havia feito aos soldados que o
prenderam no Getsêmani: “ Mas esta é a
hora de vocês, quando as trevas reinam” (Lucas 22:53). Vamos seguir os
eventos nesta parte da história, na sua ordem cronológica. Jesus entrou no jardim Getsêmani uma hora e
pouco antes da meia-noite. Ele pediu que oito de seus discípulos permanecessem
ali perto, orando. Então se distanciou um pouco mais no jardim, com Pedro,
Tiago e João, e disse: “Fiquem aqui e
vigiem comigo” (Mateus 26:38). Afastando-se sozinho, prostrou-se com o
rosto em terra e orou. Voltando para onde estavam os três, encontrou-os
dormindo. Podemos sentir a dor nas suas
palavras: “Vocês não puderam vigiar nem
por hora?...Vigiem e orem para que não caiam em tentação” (v. 40-41). Ele
sabia que em breve eles seriam tentados a abandoná-lo e fugir. O fato de ter
repetido esta sequencia três vezes – orando, voltando aos seus discípulos e falando-lhes
– indica claramente que algo incomum estava acontecendo. Normalmente, ele
gastava horas em comunhão com o seu Pai. Mas agora ele ansiava pela companhia
dos discípulos. A melhor explicação parece ser que ele sentia o começo do
afastamento de seu Pai. Jesus, tendo deixado de lado a sua glória como Deus
para tornar-se como um de nós, ficou profundamente atribulado ao
conscientizar-se de que teria que seguir sozinho. Ele tinha que enfrentar tudo
o que o esperava com a mesma estrutura emocional, corporal, e a mesma
vulnerabilidade à dor que nós temos quando enfrentamos provações menores. Quem
sabe até entendemos a sonolência dos discípulos. É verdade, eles tinham passado
um dia extremamente exaustivo. Sendo quase meia-noite, eles estavam cansados.
Mas deveriam ter percebido que algo incomum e terrível estava acontecendo. O
Mestre estava em grande agonia. Espera-se que os amigos permaneçam conosco
quando sabem que são necessários. A falta de compaixão genuína por parte dos discípulos
significou mais angústia para o Salvador. O nome Judas Iscariotes é sinônimo de
traição. Ele é o discípulo que conduziu os inimigos de Jesus até onde ele
estava e o identificou com um beijo. Como Jesus o havia escolhido como um dos
doze discípulos, deve ter visto que ele tinha qualidades que eram coerentes com
os outros onze. Jesus o havia honrado, convocando-o como tesoureiro deste
pequeno grupo. Ele incluiu Judas entre os doze, quando os enviou e lhes “deu autoridade para expulsar espíritos
imundos e curar todas as doenças e enfermidades” (Mateus 10:1). Mas este
homem, que parecia ter tão grande potencial para o serviço do reino de Deus,
tornou-se voluntariamente um instrumento do inimigo. Quando Judas viu que Jesus
não estava pronto para estabelecer o tão esperado reino, aparentemente ficou
amargurado e começou a roubar da bolsa de dinheiro dos discípulos (João 12:6).
Jesus sabia o que Judas estava fazendo e também estava consciente da traição
que ele planejava, muito antes de cumprir este seu plano. Anteriormente, Jesus
o chamou de “diabo” (João 6:70). Mas
o fez de uma forma que não deixou transparecer aos outros a quem ele estava se
referindo. Ao anoitecer daquela última quinta-feira, Jesus declarou abertamente
que um dos doze estava para traí-lo. Ele disse que o traidor faria com ele o
que um amigo achegado fez a Davi, muito tempo atrás, citando Salmo 41:9 “ate o meu melhor amigo, em que eu confiava
e que partilhava do meu pão, voltou-se contra mim” (João 13:18). Mais
tarde, naquela noite, quando Jesus celebrou a
refeição da Páscoa com os discípulos, ele deu a Judas o lugar de honra à
sua esquerda, com João à sua direita. Isto explica o porquê ele podia conversar
com os dois sem ser ouvido pelos outros discípulos. Logo após o inicio da
refeição, Jesus identificou o traidor somente para João, molhando um pedaço de
pão e dando-o a Judas. Esta cortesia normalmente era vista com um gesto de
amor, reservado para alguém especial. Talvez tenha sido um pedido amoroso de
Jesus, uma meiga súplica de arrependimento. Uma onda de emoção deve ter
atingido Judas naquele momento, mas seu coração estava tão endurecido que
conseguiu resistir a todos os seus melhores instintos e cumprir o mal que
estava em seu coração. Foi somente depois que Judas deixou o lugar onde estavam
reunidos, e chegou a um ponto que não havia mais volta, que Jesus se referiu a
ele como o homem “que estava destinado à
perdição” (João 17:12). Judas não foi uma vitima inocente do decreto
pré-estabelecido por Deus. Ele foi responsável pelas suas próprias decisões.
Ele podia ter agido de forma diferente. Se tivesse respondido às admoestações
veladas de Jesus, deixando transformar o seu coração, as palavras de Davi no
Salmo 4:19 teriam se aplicado somente à própria experiência do rei. Não teriam
outra aplicação. Ao considerar o prognóstico de Jesus, de que um dos doze iria
traí-lo, temos que manter em mente que tais anúncios sobre o futuro eram muitas
vezes reversíveis. Por exemplo, conforme as ordens dadas por Deus, Jonas
proclamou ao povo de Nínive: “ Daqui a
quarenta dias Nínive será destruída” (Jonas 3:4). Segundo o relato, isso
foi tudo o que Jonas falou. Ele não fez nenhum chamado ao arrependimento e não
prometeu misericórdia se eles se arrependessem. Todavia, “Tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus
caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha anunciado”
(v.10). A experiência de Ezequías nos dá um exemplo semelhante. Isaías lhe
disse: “ Assim diz o Senhor: Ponha em
ordem a sua casa, pois você vai morrer, não se recuperará” (2 Reis 20:1).
Ele não deu indicação de que esta declaração era condicional. Mas quando o rei
orou e chorou, o Senhor fez Ezequías voltar, antes de deixar o palácio, e
contar as boas novas ao rei, de que Deus ouvira a sua oração e lhe
acrescentaria quinze anos de vida (v. 5-6).
Tais anúncios, dados por Deus na Bíblia, são admoestações do que irá
acontecer se os indivíduos ou as nações às quais se dirigiu continuarem no seu
proceder. Deus vê o coração e sabe o que está ali dentro quando dá a
advertência. Se Ele vê que ocorre uma transformação do coração, cancela a
admoestação. Deus sabia o que estava no coração de Judas e sabia o que ele iria
fazer. Mas esse conhecimento não colocou nenhuma obrigação sobre Judas. Se ele
tivesse mudado a sua decisão, confessando o seu pecado e buscado o perdão, Deus
saberia disso também. Ele não considera ninguém um fantoche indefeso no tablado
do destino. “Ao contrário, ele é
longanimo... não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao
arrependimento” (2 Pedro 3:9). Como já vimos, essa interação da vontade
divina e da vontade humana também foi uma verdade no Antigo Testamento. O
Senhor disse, por meio do seu profeta Jeremias: “Se em algum momento Eu decretar que uma nação ou um reino seja
arrancado, despedaçado e arruinado, e se essa nação que Eu adverti converter-se
da sua perversidade, então Eu me arrependerei e não trarei sobre ela a desgraça
que eu tinha planejado” (Jeremias 18:7-8). O fato de que Judas se tornou um
homem” destinado à perdição” não foi
um ato de Deus. Esse destino foi uma decisão do próprio Judas. Também não
podemos deixar de ver o papel decisivo de satanás neste cenário. Anteriormente,
observamos que, quando Jesus molhou o pão e o deu a Judas, isso foi um ato de
honra. O apóstolo João disse que foi neste exato momento que satanás entrou nele (João 13:27). O
diabo foi capaz de fazer isso porque Judas já havia aberto a porta para ele, ao
conspirar na traição de Jesus. Sem dúvida, ele fortaleceu a resolução de Judas.
Quem sabe satanás esperava que esse ato terrível, cometido por um dos próprios
discípulos de Jesus, iria quebrantar tanto o seu espirito que ele talvez
decidisse que as pessoas não eram dignas do preço que ele teria que pagar pela
sua redenção. Essa era a hora de satanás, se ele não conseguisse dissuadir
Cristo de ir para a cruz, pelo menos iria aumentar a dor e a vergonha do
Salvador. O que ainda contribuiu para um maior sofrimento de Jesus foi que
todos os seus amigos o abandonaram. Conforme o evangelho de Mateus, quando
Jesus foi preso no Getsêmani, “ então
todos os discípulos o abandonaram e fugiram” (26:56). Jesus os havia
alertado quando ainda estavam a caminho do Getsêmani: “ ainda esta noite todos vocês me abandonarão” (V. 31). Em vez de
responder àquela admoestação com humildade, Pedro foi grosseiro e
autossuficiente. Ele declarou ousadamente que estaria disposto a permanecer com
Jesus e até morrer com ele. “ e todos os
outros discípulos disseram o mesmo” (v.35). Mas, “ então todos os discípulos o abandonaram e fugiram” (v.56). Pense no que Jesus sentiu quando o
abandonaram, no momento em que seu coração humano ansiou tanto pelo apoio e
encorajamento deles! Há poucos instantes
atrás, enquanto orava, ele sentiu que seu Pai
estava se afastando dele. Deus
Pai tinha que fazer isso, a fim de que Jesus se tornasse “pecado por nós” (2 Corintios 5:21). Agora que os discípulos tinham
ido embora, Jesus não tinha sequer a companhia de um ser humano. Sentir a
presença de outra pessoa, quando se está enfrentando a morte, é uma das
necessidades essenciais do ser humano. Mas Jesus viu que, nas terríveis horas a
sua frente, até seu ultimo suspiro, ele estaria sozinho, sem o Pai e sem os
seus discípulos ao seu lado. Esta foi a maneira de satanás acrescentar mais um
peso ao fardo de dor e tristeza de nosso Salvador.
Pedro, que havia confessado tão
nobremente em Cesaréia de Filipe que Jesus era “o Cristo, o Filho do Deus Vivo”
(Mateus 16:16), ainda aumentou mais o peso do sofrimento de Jesus. Pouco antes,
quando Pedro declarou de forma tão veemente a sua coragem, Jesus o alertou “asseguro-lhe que ainda esta noite, antes
que o galo cante duas vezes, três vezes tu me negarás” (Marcos 14:30). Em
lugar de sua valentia, como todos os outros discípulos, ele fugiu quando Jesus
foi preso. Todavia Pedro não conseguiu abandonar completamente a Jesus.
Mantendo uma distancia segura, para que
não fosse identificado, como discípulo de Jesus, ele seguiu o grupo que prendeu
Jesus “até o pátio do sumo sacerdote” (V.54)
Ali, tentou novamente esconder a sua identidade. Mas parece que se deteve no
lugar errado, entre inimigos de Jesus. Ele foi confrontado três vezes, numa
rápida sucessão, acusado de ser um dos seguidores de Jesus. Ele negou todas as
vezes que tivesse qualquer relacionamento com Jesus. Na terceira vez, “ ele começou a se amaldiçoar e a jurar; ‘
Não conheço o homem de quem vocês estão falando’” (v.71). Lucas completou a
historia: “ Falava ele ainda, quando o
galo cantou. O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro
lembrou-se da palavra que o Senhor lhe tinha dito...saindo dalí, chorou
amargamente” (Lucas 22:60-62). O que será que Pedro viu nos olhos de Jesus?
Tenho certeza que não viu uma ira gelada e um desdém frio. Quem sabe, ele viu
um olhar de decepção. Mas, acima de tudo, creio que ele viu um abismo de dor e
oceanos de amor nos olhos de Jesus. Isso
quebrou o coração de Pedro e o levou a chorar amargamente. Lucas disse que,
quando Jesus advertiu antecipadamente o seu amigo tão auto-confiante sobre as
três vezes que ele iria nega-lo, ele começou dizendo: “Simão, Simão, satanás pediu
vocês, para peneira-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não
desfaleça” (Lucas 22:31-32). O teste que satanás tinha em mente seria
intenso, como o mover vigoroso do trigo numa peneira, para separar os grãos da
palha. E como aquela era a hora “quando
as trevas reinam” (v.53) o diabo teria livre ação. A coragem de Pedro
falhou e ele fez o que nunca sonhou que fosse fazer. Mas a oração de Jesus foi
respondida: a fé de Pedro não falhou. Ele nunca
deixou de crer que Jesus era o Messias, o Filho de Deus. Ele se
arrependeu e, mais tarde, foi publicamente restaurado (João 21:15-19). Pedro
seguiu e se tornou um pregador intrépido e poderoso no dia de Pentecostes, o
dia em que nasceu a igreja (Atos 2:1-41). Ele se tornou líder reconhecido do
ministério apostólico dos judeus. Escreveu duas cartas que foram incorporadas
nas Escrituras do NT. Ele suportou perseguições intensas por causa da sua fé e
morreu como mártir. O diabo teve sucesso em fazer de Pedro um instrumento para
intensificar a tristeza e a dor de Cristo no caminho para o calvário, mas não
foi capaz de destruí-lo.